domingo, 2 de junho de 2013

Pra findar o pranto da Rosa



Letra: Cauê Bampi

A dona Rosa está chorando a muito tempo,
Um pranto manso que mal dá pra escutar...
E a cerração que a envolta no momento
Hoje impede de ver o que ela quer mostrar.

O dia chora mas sem nem mesmo chover
E visão gris prenuncia um mal estar,
A passos curtos fui chegando de mansinho
Dar um carinho à flor que insiste em chorar.

Cantei uns versos bem baixinho à esta moça
Que me recebe todo dia em seu jardim,
E amoleceram os espinhos desta Rosa...
Que prometeu um dia florir para mim.

Mesmo com ausência do sol pra aquecer
A vejo pronta pra esquecer o seu penar
E as canções que eu fiz mirando pra ela
À fazem rir e ver que o tempo quer passar.

Hoje acordei com outra visão da janela
A primavera trouxe à ela outro vestido,
De um azul forte, a cor do amor eterno
E um convite pra viver sempre comigo.

Acalanto Ancestral



Letra: Cauê Bampi

No ultimo encontro com a lua
Meus olhos seguiram nublados
E a noite bem quis o acalanto
Do canto de outras gerações.

O meu avô nos entregava
Simplicidade nos modos
E nos trejeitos com a guitarra,
Um abraço em cada nota.

Segui poema por não ouvir
E sim viver suas canções,
Onde na casa tão rude
Pulsavam três corações.

O da família era um só
E os outros dois uma marca
Pulsava a triste santinha
E as cordas do violão.

Embora longe das casas
O semblante nunca foi vago...
Não há preço que pague
O valor que teve o passado.

Hoje me encontro em dever
De pulsar a mesma guitarra
E dar paz aos corações
Pra quem evoco o acalanto.

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Canção do Senhor das Saudades




Letra: Cauê Bampi

Não é só quem tem lápis que desenha
Não é só quem dorme que pode sonhar,
Escrevo no céu e me vejo surpreendido
Pela melodia que faz meu verso chorar.

Domei o silêncio, pra voltar às estradas
Ser um rumo incerto, perdido viajante,
E os olhos do mundo sofriam inundados
Não vêem regresso, imploram que cante.

A geada que trinca o pasto que vejo
Não faz com que eu sinta dor ou desgosto,
Só carrega a lembrança e aviva as penas
Deixando as lágrimas passear pelo rosto.

Me inspiro nas cenas que os olhos procuram,
E a minha guitarra sustenta meu jeito
De índio pobre, com um sorriso bem vago
E um talho de lança, sangrando no peito.

Lá no povo me chamam senhor das saudades
Por cantar as tristezas de quem anda só
E esta é a sina que meus poemas carregam
Curar corações, nem que o meu vire pó.

Solidão


Letra: Cauê Bampi

Às vezes me vejo incompreendido
Bebendo os motivos num mate de bem
E perco os sentidos, o rumo e o resto
Pra ser bem honesto, me perco também.

Se o assovio bastasse para jornada
Botando na estrada um sonho de paz,
Eu me sentiria 'muy bien' acompanhado
Cantando o passado que não arde mais

Às vezes me sinto todo rodeado
Penso que estou errado ou fazendo mal
E os olhos que só sabem fitar horizontes
Se tornam as fontes de água e sal.

E mesmo depois de sentir a chibata
Que o tempo impõe pra quem já pecou,
Enforco o destino num golpe bem forte
Já não vivo da sorte que me abandonou.

Insano momento, incerto e noiteiro
Que só um campeiro pode compreender,
Estendo distâncias e esqueço de tudo,
Solidão é um escudo pra quem a querer.

Coplas pra'o mestre Martin Fierro



(Cauê Bampi)

À meu modo sigo cantando
E logo a palavra inflama
Quando uma lua me chama
Pra cantar minha história,
Não canto por uma glória,
Meu cantar não busca fama.

Um sonido de guitarra
Refaz o meu estradear
E quem quiser me alcançar,
Sendo pra falar do bem
Pode andar comigo também
E ajude-me a cantar.

Quando o verso não tá bem
Ele adormece chorando
E acorda se queixando
De dores que eu já tive
Só acontece com quem vive
E tem o coração pulsando.

Das dores eu não sou dono
Só possuo o palavreado
E um sonho que faz costado
Pra cantar meus sentimentos
E eternizar os momentos
Num par de versos rimados.

E assim faço o arremate
Num estilo bem campeiro,
Nome de índio missioneiro
É minha marca e sustento...
Jogo meu verso ao vento
Cantando à Martin Fierro.

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Terra Gaúcha


Letra: Cauê Bampi e José Telles

Meu chão sagrado que destapa desde antanho
Passa seus anos de raça e fibra campeira
Riscando couro e levantando nomes santos
Levando a tantos... Rumos, rastros e poeira

E com os cantos que as guitarras acolheram
Fizemos lua conquistar cheiro de flor
E o que sonhamos nas volteadas desse pago
Foi conquistado nessa terra, por amor

Pátria farrapa, que respira a liberdade
Nossa república que abriga o mais forte
Em sua bandeira ecoa um grito de guerra
E um poema que braveja contra a morte

“Vida, terra e liberdade, assim te invoco:
Ó terra gaúcha...
Em nossas guerras, muitas vidas se perderam
E lenços marcaram-se por sangues e opiniões
Mas hoje lutamos todos juntos na esperança
De trocar lanças, por guitarras e canções."

Verso terrunho que brotou da minha existência
Se foi pra'o mundo conquistar o seu lugar
E achou a pampa que lamentava as ausências
Dos seus soldados que se foram com o luar

Enquanto Netto dava a alma e sua coragem
Muitos disseram: 'liberdade é utopia'
Mas todos nós hoje corremos lado a lado
Mostrando a honra desta raça farroupilha

Leito das amizades


Letra: Cauê Bampi

Costeando as águas do rio
Nasceu amizade e encanto,
Tentos do mesmo laço
Unidos por um só canto,
Bordoneando os segredos
Em canções de acalanto.

A correnteza assim leva
O verso a tantos recuerdos,
Nos barcos do mesmo rio
Que dividem os segredos,
Quando cantamos com alma
Esquecendo nossos medos.

Fronteiro me considero
E canto com devoção
Aos que costeiam as margens
Do rio da inspiração,
Parceiros de tantas águas
Nos poços do coração.

Esta límpida lembrança
Transpõe toda a verdade,
Nos olhos de algum poeta,
Em versos de amizade,
Translúcidos pensamentos
Inundados de saudade.

Nas águas sempre encontro
Tudo aquilo que preciso,
Amigos de outras vertentes
Transportando um sorriso,
No espelho deste rio
Me vejo no paraíso.

A benção do pai


Letra: Cauê Bampi

Estava apenas passeando em meus sonhos
Quando te vi eu fui correndo te abraçar
A nostalgia então bateu à minha porta
Se te perdi é porque sei como te amar

Em noites frias, fico sempre te esperando
Com uma nova história para vir me aquecer
Eu não te vejo, mas te sinto me olhando
Tu és meu anjo, tu és razão do meu viver

Claro que sei que tu me olhas lá do céu
E se orgulha pelo amor que o filho tem
Tu quis ser anjo, pra me ver aí de cima
Ninguém se vai, sem antes ter algum porém

Chorei contando esta história muitos dias:
Quando ainda vivo, tu me fez te prometer
Que eu cuidaria da minha linda mãezinha
Se um dia, tu, meu pai, vieste a morrer.

Eu fui o homem que cuidou do nosso rancho
E também o filho que voou pra iluminar
Tendo na alma esse brilho e a tua benção
Transformo a angústia em um verso pra cantar.

Romanceando num baile


Letra: Cauê Bampi

Adentro o baile desarmado e só
Bem Junto à copa, peço uma de vinho
E n'outra dança que tu me seduz
Ouvi tocar o tango "A media luz"
Mirei pra ti e fui buscar carinho

Campeei coragem para outro convite
E quando pude, vi tu indo embora
Mas os teus olhos te denunciaram
E sem esperar, eles me chamaram
Pra repetir nossa dança lá fora.

Morena dos lábios avermelhados
Tu me provoca em cada palavra tua
E o rosado do teu vestido chama
Uma paixão que em mim inflama,
Desejo puro, beijo à luz da lua.

Estrada à fora eu te acompanhei
Botei meu Zaino num rumo disperso
Senti teu cheiro e fui enlouquecendo
Depois do abraço que fui percebendo
Teu beijo doce mudou o meu verso

Voltei à estrada para então contar
Que no baile só o vinho me pealou
Mas a história não foi bem assim
Recordo sempre tu olhando pra mim
E admito que tu “me ganhou”.


Tordilha da noite clara

Letra: Cauê Bampi e Frederico Rangel

Montada numa moura linda
Se agiganta a lua crescente
Parece até que adentra
A janela, por cadente,
E o brilho suave continha
Um rumo de luz madrinha
Que me guiava conducente.

Encantadora imagem tua
Refletida nas aguadas
A contestada dona lua
É lume geral que afaga
Faz-se pensar vagando
Que esta até perigando
Traz saída as indagas.

Tordilha da noite clara
Avesso da escuridão
Guardiã das amarguras
Guarida pra emoção
És mentora da alma
Amenizando as espalmas
De dentro do coração

Emoldurando o olhar
Se apresenta a lua mais bela
parece que esta a beijar
Meus olhos coa face dela
Habitando algum cerne
Dá ares de que até discerne
Quem tem alma singela

Sua prata já foi aço
E o vento foi seu fio
Dando um talho no espaço
Deixou o tempo vazio
Querendo chamar o dia
Pra aquecer a alma fria
Que nesta noite partiu.

Tomo a lua por minha
Gigante por ser canção,
Vejo o olhar da santinha
Luzindo em meu coração
E o escapulário balança
Enquanto a guitarra dança
Milongueando uma oração.